Uma homenagem

Não costumo fazer este tipo de postagem, mas dadas as circunstâncias, achei que deveria homenagear um artista que foi muito importante para mim e que, apesar de não ser um artista visual, foi sempre fonte de inspiração. André Matos faleceu há pouco mais de 3 meses e hoje completaria 48 anos. Desde seu falecimento, muitas pessoas começaram a contar suas histórias relacionadas a ele e eu resolvi contar a minha, porque pessoas especiais devem ser lembradas sempre.

Ainda na adolescência, conheci o Angra e esta banda logo passou a ser a minha favorita. Os álbuns Angels Cry e Holy Land embalaram muitas tardes solitárias em que eu ficava desenhando no meu quarto, criando histórias e personagens. Tinha vontade de conhecer os integrantes, mas em especial o André, porque ele era um grande compositor. Após alguns anos acompanhando seu trabalho, tive esta oportunidade.

Era o ano de 2001. O recém formado Shaman estava lançando sua demo no Manifesto Bar, em São Paulo. Eu sempre gostei de fazer retratos, em grafite ou em nanquim. Resolvi levar um desenho que havia feito do André, para que ele autografasse. Ainda na porta do Manifesto, antes do evento de lançamento começar, vimos o André chegar. Tranquilo, acessível, ele gentilmente atendeu a todos os que o abordaram. Eu estava lá, com meu modesto desenho em mãos e todos os CD's do Angra. Entreguei para ele autografar e perguntei se ele havia gostado do desenho, se estava parecido. Ele respondeu que sim, perguntou se eu poderia escanear e depois enviar pra ele. Eu fiquei muito feliz, tão feliz que não hesitei em oferecer o desenho a ele. André fez uma cara de dúvida e me perguntou se eu não ia querer guardar o desenho. Eu disse que faria outro depois. Ele sorriu, agradeceu e guardou o desenho no bolso. Tirei esta foto com ele, provavelmente a única que tenho.


Pouco tempo depois, tive a sorte de ganhar, em um sorteio do programa Backstage, um ingresso para o Tributo a André Matos - Viper e Angra, que aconteceu na Led Slay. Ele estava ali assistindo, super acessível e bem humorado. Ficou lá até o fim da homenagem, que foi á pelas 5h da manhã. Fui cumprimentá-lo e ele me tratou super, e tivemos uma conversa rápida e divertida, que ainda hoje me faz rir quando lembro dela. Falamos até do Corinthians, que ele adorava tanto. Fico pensando na sorte que tive de poder conversar algumas vezes com o músico que eu mais admirava naquele momento. André me mostrou o quanto é importante ser gentil com as pessoas. Acho que ele sabia que cada gesto receptivo tinha uma influência positiva para seus fãs, e sempre tratava a todos com atenção. Essa postura me marcou, porque sempre me faz pensar no papel do artista e em sua relação com o público. 

Pois bem, lá atrás eu havia dito que faria outro desenho, e fiz. Não só um retrato dele, mas um de cada membro do Shaman, para que eles autografassem. Devo dizer aqui que todos os integrantes do Shaman são extremamente atenciosos e educados. Era uma tarde de autógrafos pelo lançamento do álbum Ritual e lá fui eu com minha pastinha cheia de desenhos. Quando chegou minha vez, o André não apenas lembrou de mim, mas também me tratou com muita atenção, como se fosse um amigo próximo (com aquela memória, não me impressiona que falasse 7 idiomas!). Era o jeito dele, tão simples e acessível, que fazia com que a gente sentisse essa proximidade. Falei que havia feito outros desenhos, e ele já perguntou de cara: "mas pra autografar, ou pra entregar pra gente?" Perguntei se ele queria ficar com o novo desenho e antes mesmo de ver, ele disse que gostaria. Então entreguei todos os desenhos para os membros da banda. Esta é a razão pela qual eu não tenho nenhum deles guardado comigo. E foi o que me motivou a fazer mais este retrato, já que, aparentemente, ele ficava feliz em recebê-los. Foi um desafio para mim, pois estou voltando a desenhar e pintar de pouco tempo pra cá, e achei essa motivação para tentar me superar. E também porque não se trata de uma cópia de uma única foto, utilizei algumas como referência para fazer algo um pouco mais autêntico enquanto ilustração.



Para finalizar minha homenagem a este grande artista, apresento também um trabalho que fiz em 2007, logo que ele saiu em carreira solo. Sim, eu fiz uma homenagem em vida, e isso me dá um certo alento, já que tive a oportunidade de expressar minha admiração e meu respeito por ele pessoalmente. Eu era recém-formada na época e fiz este trabalho gráfico experimental sobre a música Streets of Tomorrow, que para mim tinha um significado especial. Eu levei para ele uma cópia impressa, e fui surpreendida com seu pedido de que eu escrevesse uma dedicatória. Tenho certeza de que, no supetão, não escrevi algo à altura do que ele merecia, mas foi um dia muito especial para mim. Infelizmente foi a última vez que o vi. Apesar de hoje não achar o trabalho tão legal, na época foi o melhor que eu pude fazer. E o André era alguém que sempre dava o seu melhor na sua arte. Que esse exemplo permaneça. Sigamos sempre nos aprimorando na linguagem que escolhemos para nos expressar, seja ela qual for.













Comentários